Nesse contexto, surgem as PANCs (Plantas Alimentares Não Convencionais), um tesouro muitas vezes esquecido que pode revolucionar nossa relação com a comida. Elas são plantas comestíveis que não fazem parte da agricultura comercial tradicional, mas que oferecem uma variedade de nutrientes e sabores únicos.

No Brasil, temos uma riqueza de PANCs, como a ora-pro-nóbis, a bertalha, o jambu e a taioba, entre outras. Essas plantas podem ser encontradas em feiras agroecológicas, mercados locais e até mesmo em áreas urbanas, como canteiros de praças e jardins comunitários. Muitas vezes passamos por elas e não as percebemos.

Comunidades tradicionais, como quilombolas e indígenas, já incluem as PANCs em suas dietas há séculos. Os benefícios das PANCs são diversos, incluindo a diversificação da alimentação, o aumento do consumo de nutrientes essenciais, a promoção da segurança alimentar e a valorização da biodiversidade local.

Apesar de seus benefícios, as PANCs muitas vezes são negligenciadas pela agricultura convencional, devido à falta de conhecimento sobre seu potencial nutritivo e gastronômico. A divulgação das PANCs é fundamental para promover sua inclusão na alimentação cotidiana e valorizar os conhecimentos tradicionais associados a essas plantas. Elas são verdadeiros tesouros nutricionais, ricas em vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes. Por exemplo, no Brasil a ora-pro-nóbis é uma excelente fonte de vitamina C, a bertalha é rica em ferro e cálcio, e o jambu possui propriedades antioxidantes. Em Portugal plantas como a urtiga, a acelga brava e a azeda também são utilizadas. Incorporar PANCs na dieta pode contribuir significativamente para a saúde e o bem-estar.

O desperdício de alimentos é um problema global que afeta não apenas a ética, mas também o meio ambiente. Segundo a FAO, cerca de metade da comida produzida no mundo anualmente vai para o lixo, o que seria suficiente para alimentar as cerca de 925 milhões de pessoas que passam fome diariamente. No Brasil, mais de 1,8 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçadas por ano, de acordo com o INE.

Causas do Desperdício e Iniciativas de Combate

A cultura do desperdício ocorre em toda a cadeia agroalimentar, desde a produção até o consumo final. Modelos de produção intensivos, condições inadequadas de armazenamento e transporte, prazos de validade apertados e promoções que incentivam o excesso de compra são algumas das causas desse problema.

No entanto, surgem iniciativas inovadoras para combater o desperdício, como o projeto Fruta Feia em Portugal.

A cooperativa Fruta Feia surge como uma resposta ao desperdício de alimentos e à preferência por frutas e legumes "perfeitos" em termos de formato, cor e calibre. O projeto visa criar um mercado alternativo para frutas e hortaliças "feias", valorizando o trabalho dos agricultores e conscientizando a população sobre a importância de combater o desperdício alimentar.

O principal objetivo da Fruta Feia é reduzir o desperdício de alimentos e os recursos utilizados em sua produção, como água, terra, energia e tempo de trabalho dos agricultores. Além disso, o projeto busca conscientizar a população sobre a importância de valorizar alimentos independentemente de seu tamanho, cor e formato.

A implementação bem-sucedida do projeto em várias regiões de Portugal demonstra seu potencial de replicação

e impacto positivo em outras comunidades.

As PANCs e iniciativas como a Fruta Feia representam caminhos promissores para uma alimentação mais saudável, diversificada e sustentável. Ao valorizarmos esses recursos naturais e combatemos o desperdício alimentar, estamos contribuindo para um futuro mais justo e equilibrado para todos.